Bitcoins e Tulipas Holandesas? ⋆ Carlos F P Rocha com você!

Hoje resolvi abordar um assunto que pode gerar reflexões e até mesmo provocar alguns posicionamentos, mas meu objetivo não é falar mal dos Bitcoins, nem de nenhuma outra cripto moeda, o objetivo é de apenas despertar algumas reflexões a respeito do fenômeno das cripto moedas e da forma como elas vem valorizando ao longo dos tempos.

Tulipas

Houve uma época em que as lindas Tulipas Holandesas eram mais adoradas do que o normal, isso aconteceu no século 17, quando surgiram os contratos futuros, tendo os contratos de tulipas se tornado os mais promissores. Para passar uma ideia do ponto a que isto chegou, em 1637, no pico da tulipomania, uma simples tulipa era vendida por mais de 10 vezes o salário anual de um artesão (lembre-se o ano é 1637 e o trabalho dos artesãos era muito valorizado.

Este episódio foi considerado a primeira bolha econômica da história, o que lhe rendeu a aparição (trailer abaixo) no filme Wall Street: O dinheiro nunca dorme, já recomendado neste site (https://www.carlosfprocha.com.vc/dicas-de-filmes-sobre-a-bolsa-de-valores-i/).

É bem verdade que há um certo debate se esta foi realmente a primeira bolha, ou seja foi a do metal, entre 1619 – 22, com o foco na produção de armamento militar, mas de qualquer forma, se você não a considera a primeira bolha, seguramente a considerará a segunda!

Este evento foi popularizado pelo célebre livro “Desilusões populares extraordinárias e a loucura das massas” do jornalista britânico Charles Mackay.

Houve um momento no tempo, em que um simples bulbo da Tulipa Semper Augustos, valia mais do que 5 hectares de terra, imagine, troca um bulbo de uma flor, por 5 hectares de terra? Depois tem gente que acha absurda a troca de um cavalo por um território… Ao menos o cavalo possuía uma longevidade maior do que a flor…

Isso se passou na era dourada do porta de Amsterdã, que era uma das mais ricas cidades na europa, por onde passavam várias companhias de explorações, como a famosa Companhia Holandesa do Leste das Índias (Verenigde Oost-Indische Compagnie), que dominava o comércio entre a Indonésia e demais países distantes e a Holanda. Este comércio deu origem à importação de diversas mercadorias nunca antes vistas nos mercados holandeses, dentre as quais, as Tulipas, originalmente enviadas por um sultão, da Turquia para Veneza, de onde em torno de 1550, foram enviadas as primeiras sementes para a Holanda.

A adoração do povo pelas flores que conseguiam sobreviver às árduas condições climáticas foi crescendo, elas foram sendo classificadas em grupos, conforme sua raridade, onde se obtinha valores maiores para aquelas com múltiplas cores, do que para as monocromáticas. Então elas foram infectadas com um vírus benigno que produzia o efeito de chamas nas suas pétalas e fazia com que fossem vendidas a valores maiores ainda.

As pessoas passaram a investir quantias cada vez maiores nelas e a obter retornos gigantescos, então investindo ainda mais, ao ponto em que a maior parte das economias de muitas famílias estava investida nestes contratos de rentabilidade “garantida”, multiplicando seus patrimônios.

A cada dia os valores delas subiam mais, então com a introdução dos mercados futuros dispararam, atingindo cifras surreais, até o momento em que as pessoas se deram conta do quão irreais eram aqueles valores e a bolha estourou, destruindo verdadeiras fortunas e jogando famílias da riqueza à pobreza.

Bitcoins

Certo, mas qual a relação entre elas e as moedas criptográficas?

De acordo com o renomado jornal The Economist, quem tivesse investido $1,000 em bitcoins no ano 2010, teria hoje a quantia estupenda de $36 milhões!!

Um único bitcoin vale mais do que o dobro de uma onça de ouro!!

Quando pensamos que uma moeda virtual, atingiu um valor superior ao dobro de uma onça do metal mais valioso de toda a história da humanidade, é inevitável o estabelecimento de relação entre esta evolução e a crise das tulipas.

São situações diferentes? Absolutamente. Há possibilidades reais dos Bitcoins continuarem crescendo sem parar? Sim, há, até mesmo em função da aceitação deles em múltiplos mercados internacionais, da fácil circulação deles através de fronteiras, etc.

Por outro lado, há chances de serem uma bolha que possa vir a estourar? Novamente, a resposta é sim e simplesmente não conseguimos ainda afirmar qual das duas probabilidades é maior, pois encontraremos pessoas afirmando categoricamente que o investimento em moedas criptográficas é loucura e outras afirmando que não investir nelas, sim, que é loucura.

Qual destas pessoas está certa? Sinceramente, apenas o tempo será capaz de responder, pois haviam os dois tipos no evento das Tulipas mencionado acima e da mesma forma que isso pode ser um forte indicativo de que os Bitcoins terão o mesmo destino das tulipas, o fato de serem situações diferentes, pode ser o indicativo de que terão destinos muito diferentes.

Os Bitcoins também sofrem influências de fatores econômicos e políticos? Muitos diriam que não, mas como suas cotações são influenciadas pelas leis da oferta e da procura, a resposta mais correta é sim.

Isso foi claramente constatado, no Brasil, durante um momento de forte instabilidade política, quando a cotação dos Bitcoins disparou, provocando o famoso efeito manada, onde investidores menos experientes se jogaram às compras, adquirindo grandes quantidades desta moeda, apenas para verem seu investimento derreter no dia seguinte, quando os investidores mais experientes aproveitaram para realizar os seus ganhos.

As técnicas a serem utilizadas com as moedas criptográficas são muito similares às técnicas utilizadas para arbitragem de câmbio e quem as desconhece invariavelmente incorre em prejuízos, quando possui o foco nas operações de curto prazo.

Já considerando o longo prazo, caso as moedas criptográficas não se tornam a mais recente bolha econômica, os ganhos são mais fáceis de serem obtidos, requerendo desta forma menos conhecimento financeiro, apenas mais paciência.

Neste gráfico podemos ver claramente as oscilações que a moeda teve nos últimos dias…

Conclusões

As conclusões sobre ser válido ou não investir em moedas criptográficas são individuais, a única coisa que eu digo, é que elas devem ser tratadas como qualquer outro investimento, ou seja, não coloque todo o seu capital nelas, nem as considere completamente seguras, pois a surpresa e os danos podem ser irreversíveis em uma virada de mercado.

Esperava algum tipo de recomendação? Desculpe, mas o meu objetivo foi apenas o de leva-lo a reflexões. Não pretendo fazer as vezes de um analista ou consultor financeiro indicando investimentos, pretendo apenas auxiliar na tomada de decisões através da reflexão e ciência dos riscos que podem estar envolvidos nas operações.